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As minhas férias culturais!

Setembro 11, 2008

Boas!

Espero que essas férias tenham sido óptimas e bem recheadas de eventos culturais! As minhas até foram bem compostas, desde festivais a bom cinema, tudo se fez um pouco! Começando pelos concertos, as minhas férias foram pautadas por alguns concertos bastante bons, poucos maus, e uma mão cheia deles memoráveis! Então aqui vai:

Optimus Alive

Rage Against the Machine foi um desses concertos memoráveis. Começando pela nostalgia que foi ouvir canções que ouvia repetidamente quando era mais novo, pelo facto de a separação não lhes ter suavizado a raiva nem esmorecido os ideais, ou apenas pelo facto de o concerto ter sido um bruto mosh do principio ao fim com o público a vibrar com os clássicos todos de Zach, Morello e companhia. Quem também cumpriu bastante bem foram os Gogol Bordello, com a sua máquina de punk cigano a fazer mexer toda a audiência, e os The Hives que, apesar de não apresentarem nada de novo e de muito interessante a nível musical, sabem como incendiar a plateia (pontos extra pelo visual à desenho animado!). The National estavam claramente deslocados, as excelentes canções do último álbum perdem-se completamente num recinto tão grande mas, a grande surpresa da noite vai para os Vampire Weekend (achei o álbum um pouco overrated mas em concerto estavam bastante soltos e o afro-pop de teor “beto” pôs toda a gente a dançar!). Destaque também para o electro desenfreado dos Boyz Noize a fechar a noite no palco secundário.

Paredes de Coura

Sem falar no ambiente confortável, na simpatia dos “nativos”, nos concertos de jazz ao final da tarde no relvado junto ao rio, nas paisagens fantásticas e no anfiteatro natural onde decorriam os concertos, este foi o festival a que fui este ano em que houve mais e melhores concertos! The Mars Volta foi aterradoramente bom, o guitarrista e principalmente o baterista são do outro mundo, as composições free jazz com muitos improvisos de saxofone lá pelo meio encaixam na perfeição com o rock psicadélico da banda e depois ainda há o falsete do alucinado vocalista a dar corpo à música que até já faz sentido só por si (notou-se bem isso nas várias jams que os músicos foram fazendo ao longo do concerto).  dEUS foi completamente nostálgico (tocaram bastantes coisas do “In a bar under the sea”, um dos álbuns da minha infância), Wraygunn como sempre foi explosivo, Sex Pistols foi…hmm…diferente? Apesar de soar menos punk que o original até foi bastante engraçado, apesar de já estarem velhos/hipócritas/parvos. Editors foi genial e vale a pena dar destaque também a Bellrays (não conhecia e ainda não ouvi desde o concerto, mas foi bastante prometedor!) e ao dj português Woman In Panic que fez um set muito glitch, inovadoramente nada português! A ouvir…

Sudoeste

Confesso que o cartaz era uma desilusão para mim, sobretudo depois do fantástico cartaz do ano passado, mas mesmo assim ainda houve um David Fonseca inspiradíssimo, um Toumanie Diabaté virtuosíssimo (mas a pecar por se ter rodeado de demasiados instrumentistas, principalmente um “gorila” excitado a tocar djambé que não deixava ouvir a kora do T. Diabaté, que era o que realmente interessava…), uns Chemical Brothers medianos e uns Franz Ferdinand completamente infelizes (para mim, uma das desilusões do ano). Mas o destaque vai mesmo para Björk: a vaguear entre paisagens sonoras mais electrónicas do que intimistas (o que fez sentido tendo em conta o espaço onde tocava), não se inibiu de experimentar, de desafinar, de fazer dançar, saltar, etc. Concerto genial numa atmosfera arrepiante, onde não faltaram lasers, máquinas de fumo, milhões de papelinhos pelo ar e, sobretudo, muita gente a delirar com ela!

Em termos de concertos fora de festivais, destaque para o contrabaixista Carlos Bica (acompanhado pelo excelente pianista João Paulo) no Parque Eduardo VII (não vale fazer piadas!). Outro dos concertos que valeu mesmo a pena foi o de Chris Corsano na galeria Zé dos Bois no Bairro Alto. Apesar de acompanhado por uma saxofonista mediana, Corsano na bateria chega e sobra para deliciar qualquer um (que esteja aberto a free jazz claro!) Ah, faltava dizer que uma das poucas pessoas que lá estavam a assistir ao concerto (éramos só pra aí uns 30) era a Björk!

Festa do Avante

Bom, já se sabe como é o Avante… normalmente vêm-se poucos concertos! Mas dos que vi, há a destacar os frenéticos concertos de Kumpania Algazarra e Wraygunn: os primeiros a espalharem a sua música de fanfarra por toda a gente, de velhos a novos, tudo dançou, saltou e cantou! Os segundos, já não é novidade nenhuma que são das melhores bandas portuguesas ao vivo, tanto em termos da sonoridade rock-blues-soul que tocam como da interacção que têm com o público. Paulo Furtado (muito bem acompanhado pelas vozes de Raquel Ralha e Selma Uamusse) é sempre um agitador, tanto no palco como na própria assistência, já que faz sempre questão de se ir passear para o meio do público (seja a pé e de microfone em riste, seja a fazer crowd-surf). Destaque ainda para a mais valia da Rock’n’roll Big Band que agora toca com os Xutos & Pontapés, a complementar com arranjos jazzísticos consistentes a música da banda, sem nunca comprometer as canções impondo-lhes demasiadas ornamentações ou cortando a voz do público (que como é óbvio em concertos de Xutos, tem de se fazer ouvir). Nota também para X-Wife que não desiludiram, apesar do intenso sol que se fazia sentir na altura que tocaram e que amoleceu um pouco a assistência. A nível de concertos mais recatados, o projecto Telectu do guitarrista Vítor Rua e do pianista Lima Barreto (acompanhados por bateria e laptop) foi bastante interessante, a juntar uma sonoridade experimental, muitas vezes associada mais a instrumentos electrónicos, a um pianista bastante frito (e que por sinal, gostava bastante de tocar com os cotovelos…). Outra banda algo experimental que me despertou a atenção foi Kaja Bucalho que, apesar das letras “naifs” e da péssima voz do vocalista, apresentou um conceito bastante original que consistia em aplicar uma abordagem experimental à música tradicional portuguesa. Apesar do uso de instrumentos menos ortodoxos, como búzios e chocalhos de ovelhas, a sonoridade nunca perdeu o ritmo ou o bom senso (a bateria e o banjo electrónico ajudaram bastante nisto).

Em termos de álbuns, viciei-me de vez no “Everything Ecstatic” de Four Tet, música experimental com cheirinhos de rock, jazz e electrónica (“Sun drums and soil” e “Smile around the face” são fantásticas, vale a pena pesquisar no youtube). É dificil de entranhar mas depois de algumas audições as composições dele começam a fazer muito sentido. Um álbum muito bom que conheci este verão é o “Rossz Csillag Alatt Született” de Venetian Snares, uma mistura de música clássica com drum’n’bass futurista: bastante aconselhável! Redescobri os fantásticos álbuns “Supermodified” do Amon Tobin e “Reconciliation” dos Hipnótica. Atenção aos Hipnótica, uma banda portuguesa algo desprezada mas que mantém uma actividade bastante interessante, a explorar terrenos entre o jazz e a electrónica alternativa, com um contrabaixo muito activo e uns sintetizadores e improvisos de saxofone subtis completamente geniais! Para terminar, descobri uma gravação dum concerto da banda mais rocambolesca de John Zorn, Naked City: uma mistura de jazz, death metal, punk, noise rock e muito free jazz (vale a pena ir ao wiki da banda e enumerar a quantidade de géneros que lhes é atribuída!)

Confesso que tive pouco tempo para ler livros (com muita pena minha) e sendo assim, a literatura estas férias resumiu-se ao “Me talk pretty one day” do David Sedaris, um humorista fantástico que aplica o formato Stand-up ao livro, com uma escrita bastante consistente mas fluida.  Basicamente o livro conta a história da adolescência disfuncional do autor, desde os problemas na escola e no relacionamento com as irmãs, como a descoberta da droga, da arte, etc.

Em termos de exposições confesso que este verão também esteve um pouco fraco para os meus lados… apenas vi a “Outras peles” de Marcel.lí Antunez nas Galerias Zé Dos Bois, um resumo da obra do artista dividido em três fases: peles (composta pro exoesqueletos e interfaces mecânicos), membranas (através de instalações biológicas) e processos (diversos desenhos e objectos espalhados pelas paredes da galeria). A ideia-chave da exposição eram os “interfaces e camadas do ser humano, tanto na sua relação emotica como tecnológica – através do recurso a peles simuladas, identidades espelhadas, próteses ou exoesqueletos”.

Em relação a filmes não vale a pena enumerar os que vi que nunca mais saía daqui :P, mas há uns quantos que vale a pena falar. Vi um dos melhores filmes de guerra de todos os tempos, “Paths of glory” de Stanley Kubrick, uma sátira de 1957 à 1º guerra mundial que se preocupa mais em focar os bastidores do confronto e as hipocrisias inerentes a um exército, do que propriamente em mostrar cenas de guerra. Outro clássico que vi foi o “The General” (1927) do grande Buster Keaton, talvez o melhor filme mudo de sempre. Apesar de ser uma típica comédia muda (à lá Chaplin), é um filme muito bem realizado e protagonizado (a cara sempre séria de Keaton é um marco da história do cinema) que envolve um estudo aprofundado sobre a guerra civil nos Estados Unidos. Um filme recente que me marcou bastante foi o “Le Scaphandre et le papillon”, um drama sobre um homem de sucesso que sofre uma trombose e que, apesar de ficar completamente paralisado com excepção de um olho, não desiste da vida. É uma história verídica baseada no livro que esse homem escreveu a contar a sua experiência (ele ditou o livro todo à base de piscadelas de olho). Uma história de coragem, com um argumento e uma fotografia brilhantes (destaque para os planos na 1º pessoa do protagonista e para os momentos filmados na praia com principal atenção à interacção do vento com os corpos). Voltando aos clássicos, fui à Cinemateca ver o “Pierrot le fou” (1965) de Jean-luc Godard: cor fantástica, argumento à lá Nouvelle Vague francesa que nos reserva umas boas gargalhadas e outros tantos momentos melancólicos. Aqui fica um excerto:

http://br.youtube.com/watch?v=3iK6_mDnPRI

Beijinhos e abraços!